A insustentável leveza das escolhas

Já pensou em quantas escolhas somos obrigados a fazer num único dia? Imagine essa conta ao final de uma vida inteira! Como no filme “360”, de Fernando Meirelles, muitas e muitas vezes nos vemos diante de uma bifurcação.

Escolher um dos caminhos que se apresentam diante de nossos olhos não é tarefa fácil. É como atravessar um túnel no escuro com os faróis do carro apagados.  E sem saber o que iremos encontrar do outro lado.

E assim é em todas as nossas escolhas, desde as – aparentemente – mais simples, até aquelas definidoras do rumo de toda uma vida.

Continuar na empresa ou largar um emprego de mais de dez anos? Buscar um lugar ao sol na iniciativa privada ou estudar para concurso público? Casar ou permanecer solteira? Ter ou não ter filhos?

Alguns impasses podem ser resolvidos em questão de horas, dias, talvez. Passar o feriado no Rio de Janeiro ou em São Paulo? Viajar de férias para a Patagônia ou Amazônia?

Confesso: sou muito indecisa. Tenho dificuldade em decidir até mesmo as questões mais simples… Penso, repenso, dou voltas sem sair do lugar, puxo um fio, outro, acabo voltando ao ponto de partida.

Só para citar um exemplo: demorei quatro anos até ter a coragem de deixar um emprego de mais de uma década para trás (diga-se de passagem, um trabalho do qual gostava muito).

Mas quando decidi…  Áh! A sensação é de liberdade. Pular no abismo sem rede de segurança e saber que há milhares de caminhos disponíveis à minha frente.

Impossível não pensar numa poesia de Cecília Meireles que teve grande influência na minha infância: “Ou isto ou aquilo”. Os versos até hoje me acompanham:

Ou se tem sol e não se tem chuva
ou se tem chuva e não se tem sol!

Quem disse que não dá para ter os dois juntos? Sol com chuva, casamento de viúva. Chuva e sol,  jogo de futebol. Brincadeiras à parte, o resultado dessa união é um belo arco-íris!

Ou se calça a luva e não se põe o anel
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Depende da situação.  Se faz frio, prefiro mesmo ficar sem anel.

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

E os pilotos? E os baloeiros? E os paraquedistas? Cecília, Cecília, nada é tão oito ou oitenta, como parece…

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Também acho. Queria estar em mil lugares ao mesmo tempo!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Essa é fácil. Qualquer criança vai preferir o doce.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Uma vida inteira!

Setembro de 2015
Foto da autora.
Cristina Fagundes escreve aos domingos.

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