Açaí com banana e mais banana

Há dias em que os deuses da Lógica resolvem brincar comigo. Tarde de domingo e queria apenas saborear um açaí. Entrei numa lanchonete roxa. Sim, todos os estabelecimentos que vendem açaí escolhem, criativamente, esta cor para compor a decoração. Sento à mesa e a garçonete me entrega papel e caneta.

Açaí, sabemos, é uma iguaria caprichosa. Só anda acompanhada. Experimente pedir apenas um açaí. Dificilmente conseguirá. E, para comer, é preciso passar por um pequeno ritual. Então, vamos lá:  Primeiro, o tamanho: 250, 300, 500 ou 700 mililitros. Sozinha, descarto as opções maiores.

Hum…250 ou 300? A diferença de preço chama a atenção do meu cérebro. Ele, rápido, recita: compensa tomar o de 300. Mas você vai se encher, comer mais do que precisa para economizar? Que mané-compensa? Rebate o estomago. Ai saco.

Não! Sou uma mulher. Não tem essa de saco. É só força de expressão. Bem, não dou muita bola para o cérebro nem para o estômago. Os dois vivem às turras mesmo, mas a barriguinha sorrateiramente sussurra: 50ml faz diferença para a boa forma. Peço o menor.

Primeira etapa vencida, a filipeta informa meu direito de incluir no pedido quatro frutas mais seis acompanhamentos e uma calda. Fora isso, qualquer coisa entra como adicional e tenho, naturalmente, de pagar a mais.

Descarto a calda. Peço meu açaí com banana e leite em pó como acompanhamento. A moça me encoraja a pedir mais. “Você tem direito a quatro frutas! E mais cinco acompanhamentos pelo mesmo preço!”

Peço, então, para repetir a banana e está bom assim. Ela resmunga “Tudo bem!” e crava um X no espaço dedicado ao adicional. Sim! Ela quer me cobrar adicional porque eu já havia pedido banana. Essa banana era extra.

Você entendeu a lógica? Então, me escreve explicando porque não alcancei. Tenho direito a quatro frutas, peço duas porções da mesma e, porque estou repetindo, e não escolhendo outra, devo pagar adicional. Se fosse um jogo de videogame, onde a realidade é mais elástica, é como se a banana só tivesse uma vida.  Repetiu? Perdeu ou só na outra fase.

Sou filha de comerciante, mas não herdei o tino. No entanto, tenho o bom hábito de me colocar no lugar do outro. Então, desenvolvo o seguinte raciocínio: entre as frutas há as mais caras, como pera e lichia, e as mais baratas, como… Sim, querido leitor, como a banana.

Assim, talvez haja um equilíbrio na composição do preço quando um estabelecimento lhe oferece um mix de quatro frutas. Imagino: se todos pedirem só as mais caras talvez o lucro seja menor.

Mas, veja bem: pedi banana. Fruta que é, inclusive, sinônimo de barato. Quem nunca ouviu a expressão “A preço de banana”? Tem mais uma coisa: e as outras duas porções de frutas que abri mão? Vou ter desconto? Não! Como assim? Não, assim não como.

Matemática nunca foi meu forte, mas pagar adicional para comer duas porções de fruta quando tinha direito a quatro é uma conta que, na minha cabeça, não fecha. Equações com esse nível de abstração são difíceis demais.

Ela não aceitou meu argumento e fui informada que qualquer alteração só com a autorização do gerente. Sinceramente, se eu tivesse tido um dia daqueles no trabalho, ou estivesse cansada, talvez reclamasse ou me indignasse, ou até deixasse o lugar roxa… Melhor: açaí de raiva.

Mas, domingo, relaxada, achei divertido demais viver uma situação, a meu ver, surreal. Lógico que quero falar com o gerente. Não podia perder sua explicação. Qualquer desculpa com um pouco de lógica sobre a cobrança seria uma aula sobre a criatividade humana.  Pagaria o preço com prazer. No caso, o adicional bananal.

Mas, que decepção! O homem, que, de banana não tinha nada, rapidamente percebeu a mancada da funcionária. Se desculpou e pediu para à garçonete providenciar meu pedido “no capricho”

Sorri ao ouvi-la gritar para a cozinha: “Sai um açaí com banana e mais banana. Capricha no adicional que é cortesia da gerência.”

Martha Aurélia Gonzalez escreve, quinzenalmente, às quartas-feiras

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