As prostitutas e a pseudoexecutiva

Folheava um jornal enquanto aguardava o táxi quando ouvi um murmurinho de vozes femininas na recepção do hotel. O alvoroço roubou minha leitura, virei e deparei com três mulheres de corpos exuberantes. Uau! Estavam vestidas com minúsculas peças, destacando as silhuetas dos corpos trabalhados em academia e emoldurados com doses de silicone e botox. Um rapaz de boné, tênis, calça jeans e camiseta colada ao corpo, enfatizando os músculos do peito e dos braços, solicitava transporte para o grupo.

Eram pouco mais das sete horas da manhã de uma segunda-feira. As beldades exibiam rostos com maquiagem marcante e sandálias do tipo gladiador, salto de 15 ou 20 centímetros de altura, sei lá. Gente, que pique! Quem me dera ter essa disposição no início da semana. Santo giallo!

Apenas de rímel, batom, sapatilhas, saia justa até o joelho e um blazer básico, me senti minha pônei Vittoria diante daquelas cavalas marchadoras. Como costumo acordar de bom humor, estava de bem por se eu mesma, independentemente do lugar. Soltei um “Bom dia!”, respondido por uma morena linda dos olhos verdes. Semblante de uma menina, talvez posso assim dizer.

Os táxis chegaram. Um motorista recusou-se atender o grupo. Pela aparência, optou pela minha pessoa. Ainda perdida e impactada com a desagradável cena (a turma foi ao encontro do outro veículo), acabei metralhada com olhares de indignação das moças.

Constrangida, entrei no carro. “Bom dia, senhora!”, disse o simpático condutor. Após confirmar meu destino, e antes de eu fazer qualquer questionamento, ele imediatamente argumentou: “A essa hora da manhã, transportar piriguetes, é demais, não?” (piriguete é um termo pejorativo para classificar mulheres que gostam de se divertir de forma descompromissada, de vida fácil, na explicação de alguns amigos).

— Por quê? Elas também pagam a corrida assim como eu vou pagar, não? — retruquei.

— Mas sei que a senhora está “limpa” e essas garotas podem estar drogadas para aguentarem mais uma jornada. Elas trabalham durante a noite e nós, “pessoas normais” (gesticula as aspas com as mãos), durante o dia… Evito o risco…  À noite, ainda costumo levá-las para os executivos, ou vice-versa. Aí, geralmente, estão “limpinhas”… Mas, neste horário, para fazer outros programas, acho muito difícil. Elas têm uma jornada pesada e muitas se drogam para aturarem o trampo.

Tentei intervir para entender como ele saberia se eu era uma pessoa normal e limpa (no jargão dele), mas sequer me deixou falar. Então, ouvia e me surpreendia com os relatos, alguns curiosos e sigilosos. Ele precisava se justificar porque evitara o transporte. Para mim, soou bastante conservador. Compreendi e respeito a situação como um todo, mas ela envolve questões mais graves e delicadas.

Segundo o taxista, há quem fature mais de dois mil reais numa única noite. De fato, as aparências enganam. Sem dúvida, o que essas prostitutas de luxo ganham em uma semana é muito mais do que recebo mensalmente. Ainda assim, somos todas cidadãs, e desfrutamos dos mesmos direitos e deveres.

(Abril de 2014)

Foto: Edsandra Carneiro