Crônica de uma culpa

(Por Priscilla Sena)   A complexidade das causas desafia a compreensão humana. Por que entender a responsabilidade de tantos participantes, se nos alivia culpar alguém? Não importa quem errou, nem quem podia ter feito alguma coisa, mas aquele que foi visto com a batata quente na mão antes de ela cair.

Seis ministros empatam seus votos e cabe ao presidente da corte decidir o futuro. Ah, se não fosse esse cargo… Esse papel no palco da vida, de dirigir os que travam na hora do aperto, os que perguntam ao colega o que devem fazer, os que se encolhem no conforto de seus cantos, acolhendo ordens e recolhendo os frutos.

Engana-se quem pensa que não observam. O mal do egoísta é achar que os outros são idiotas. Mais espertos são eles, que se calam, param, deixam a batata cair sem nem por as mãos. Anulam seus votos.

Se a culpa é católica, autoincriminar-se é escolha. Em tempos midiático-simbólicos, o adhominem resgata confissões das mais antigas para comprovar, sem nexo causal, na mente do júri, a índole do réu.

Sofre o sincero… O que se importa em fazer só a sua parte. E se esforça, aprende, cresce, constrói. Não se abala com os problemas, enfrenta, supera. Não procura cavar as causas complexas. Elas estão na audiência. O comburente é inevitável, mas o choque entre as engrenagens gera faíscas.

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