Nuvem rolo, o fenômeno

Há várias explicações para a formação da nuvem gigante que apareceu na Grande Vitória, em 5 de agosto, e ganhou a primeira página dos jornais. Mas, mesmo sem entender o ocorrido, não dá para negar que foi um presentão dos céus para a imagem do Estado. Há tempos o Espírito Santo não aparecia na mídia nacional com um, digamos assim, rolo positivo.

A teoria dominante dos meteorologistas é de que o fenômeno, conhecido como “nuvem rolo”, acontece quando há um choque de ventos que sopram em direções contrárias. Acompanhada de uma frente fria, é acontecimento raro. Segundo o site Wikipédia, a Austrália atrai turistas, nos meses de setembro a novembro, pela possibilidade de presenciarem o fenômeno.

No Brasil, há apenas quatro casos registrados. Antes de dar as caras em terras capixabas, surgiu no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Quando apareceu na Cidade Maravilhosa, metade dos cariocas pegava uma praia e não gostou dela encobrir o Sol. O restante divertia-se nos barzinhos da orla e foi mais benevolente: marcou um encontro no final do dia, na Pedra do Arpoador, para aplaudi-la, como fazem com o pôr do Sol.

No Sul, os gaúchos, informados que esse tipo de nuvem pode atingir até 1.000 quilômetros de comprimento e ter de um a dois de largura, organizaram um churrasco para discutir a criação de um Centro de Tradições Gaúchas, o famoso CGT, naquele espaço.

Os moradores de São Paulo, por sua vez, ficaram encantados com o espetáculo, mas o êxtase foi descobrir que a nuvem consegue se deslocar a uma velocidade de 60 quilômetros por hora. “Mêu! Nem aos domingos, na Marginal, ando tão rápido.” Um político local sugeriu se fazer a Dança da Chuva. “Se ela descarregar, resolve o problema da falta d’água.” A proposta, no entanto, deu em água, ou melhor, não vingou.

No Espírito Santo, o céu fez-se ainda mais azul, como se quisesse realçar toda a formosura daquela formação. Não fosse um trocadilho tão infame, poderia se dizer que, quem foi caminhar na praia, voltou andando nas nuvens com tamanha beleza.

Mas, onde uns viam exuberância, alguns enxergaram uma oportunidade para escapar do serviço. Em um bairro nobre da capital, patroa e faxineira encararam o fenômeno de maneira diversa.

— Alô! Patroa? Acho que não dá para eu chegar pra faxina. com um probrema.

— Terezinha, quem diz que tá com um probrema, tem no mínimo dois… Mas, deixa prá lá. O que aconteceu dessa vez?

— Essa nuvem aí, a senhora num viu, não?

— Vi. E daí? Vai me dizer que você no time que acha que o mundo vai acabar?

com medo mesmo! A danada é enorme, tomou o céu todinho. Capaz de ser o fim do mundo. Vou ter uma conversa séria com o Valdisley sobre isso.

— Como assim? O que seu neto tem a ver com o fim do mundo?

— Ah! A senhora promete guardar segredo?

— Hum…

— Esse menino enrolado nessa história. Ele vive enfurnado naquele quarto com o computador ligado. Há tempos, vejo ele falando que guarda tudo nas nuvens e ainda ensina os amiguinhos a fazerem o mesmo. Parece até feitiçaria. Eu sabia que um dia ia dar…

— Terezinha, para de enrolar. Pega a condução e vem trabalhar. Posso assegurar que o Walt Disney…

— Val-dis-ley.

— Isso. O Val-dis-ley não tem nada a ver com isso. Hoje é o dia em que vou oferecer um jantar para aquele casal que vai oficializar o rolo deles, lembrada? Então, com ou sem nuvem, independentemente de o mundo acabar ou não, vou precisar de você. Aliás, se você me deixar na mão, de novo, é melhor torcer mesmo para que o mundo acabe.

— Que isso, patroinha. chegando aí. Eu lá pessoa de enrolar no serviço por causa de uma nuvenzinha besta como essa.

(Inverno de 2014)

Foto: Es Hoje/Reprodução Facebook/Ana Clara Fonseca