#PartiuFarmácia

Não é porque vou sair de máscara que não vou colocar a dentadura. Não mesmo! Idade rima com dignidade. Se Álvaro fosse vivo diria: “Isso é terrivelmente aborrecido.” Humpf… Era um gentleman.

Ia ser uma luta ele lembrar ter de trocar a máscara de duas em duas horas. Já andava tão esquecido… Mas, por que mesmo eu fui lembrar dele, agora? Ah! “Terrivelmente aborrecido.” Sim. Ele diria algo assim.

Eu não. Rasgo logo o verbo. É chato pra… Gente, como é mesmo a expressão? Tá na ponta da língua. Ah! Caralho. Também, desde a morte do meu velho, eu não ligo mais o nome à pessoa.

Sei não haver outro jeito. Temos de usar, mas esse negócio de máscara é chato pra cacete! Ôpa: consegui rememorar um sinônimo, legal. Pior só os hipocondríacos lotando as farmácias. Insanos atrás de medicamentos prescritos por eles próprios ou pelos doutores de WhatsApp, provocando filas desnecessárias e a alegria da indústria farmacêutica.

Uma hora é cloroquina; outra, hidroxicloroquina; mais outra, invermectina. Será que não vendem um colírio para essa gente enxergar o perigo da automedicação? A maioria só acha perigoso sair para trabalhar; ir à praia parece seguro, né? Deve ser o mar. O sal da vida.

Só rezo para não encontrar aquela vizinha chata no caminho da farmácia. Nem da área médica é e tentou me convencer a tomar um remédio para vermes sob o argumento “Tá todo mundo tomando”. Respondi: “Minha filha, se todo mundo tiver tomando no cu, eu não vou dar a bunda por causa disso. Sua mãe nunca lhe disse ‘você não é todo mundo’, não?” Virou a cara. Deve ter pensado: velha grossa.

É até um alívio não lidar mais com ela. Gostava de falar comigo no diminutivo, como se eu fosse criança. Mania feia essa do povo de infantilizar o idoso. Isso é uma pandemia para qual ninguém se lembra de criar vacina.

Agora, fico pensando: se estão tão preocupados em acabar com os vermes, por que não aproveitam a próxima eleição? No Congresso e nos cargos do Executivo poucos sobreviveriam. Era a coisa mais saudável para o povo brasileiro fazer.

Tenho idade suficiente para saber ser a Medicina preventiva a melhor. Aliás, pensando em prevenção, vou levar minha bengala. Assim, se algum sem-noção vier em cima de mim, a empunho como uma espada.

Só tem uma explicação para o comportamento dessa gente. O uso da máscara por muito tempo deve tornar o ar viciado e isso faz a pessoa perder a noção de espaço. É o único motivo plausível para o fato de as pessoas não conseguirem manter distância. Só faltam esbarrar na gente. Muito estranho.

Pensando bem, o presidente da Nação não usa máscara, e também tem um comportamento esquisito. Outro dia foi flagrado empunhando uma caixa de comprimidos para uma ave. Ela tascou-lhe uma bicada na mão. Quem sabe, além do remédio, estivesse segurando a receita ela fosse mais gentil?

Não quero me meter nisso. Já diz o ditado: “Ema, ema, ema, cada qual com seu problema.” Mas esse moço tá precisando é de outro remedinho, táoquei?

Bem, vamos à check list para a ida à farmácia: receita médica, cartão, bengala, álcool em gel e máscara. Ah! Saudades do tempo em que brinco era o acessório que usávamos nas orelhas.  Esse pedaço de pano já ganhou até o apelido de máscra, provavelmente criação dos mesmos inventores de fósfro e prástico.

Tempos difíceis. A verdade é que, para essa pandemia, o melhor remédio é paciência, muitas doses de paciência, até porque, para a ignorância dos que insistem em não se cuidar, e expor os outros, ainda não inventaram uma vacina.

(Inverno de 2020)

Martha Gonzalez escreve, quinzenalmente, às quartas-feiras no www.clubedecronicas.com.br e, acredita ser o riso e a leitura os melhores remédios.

Imagem: Gazeta do Triangulo

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