Voltando ao interior

Dias atrás, minha bateria descarregou e aproveitei para desligar por algumas semanas. Na certeza de questionar quem eu sou e o que estou fazendo aqui, busquei nova fonte de força para encher o carregador da minha vida, acender luz para clarear o meu caminho e aquecer a essência do ser. Fui buscar respostas para o que realmente me faz ser aqui.

Quero dizer: me encontrei, nas palavras dos especialistas, no limite do chamado estresse, ou depressão, e fui obrigada a desligar antes que a central de energia queimasse por completo. Meu corpo físico, de alguma forma, expulsava o “não sei o quê” por quase todos os cantos, especialmente nas extremidades. Mãos e pés feridos de modo esteticamente desagradável. Pensei: “Como será que está a minha alma?” “Como vai o meu interior?”

Pedi tempo, no trabalho e para concluir o período no curso na Universidade, e fui para o meio do mato. Ou melhor: para as florestas das montanhas. Meus amigos podem estar certos de que sou a amiga mais desnaturada possível, daquela que sequer responde e-mails ou mensagens — ainda devolvo as ligações. Na verdade, e-mail e WhatsApp me fazem pensar no quanto a vida real está virtual.

A tecnologia é uma benção que facilita quase tudo? Sim. Mas, até que ponto devemos ser dependentes deste meio virtual, deste ‘blim blim’ de mensagens constantes? Chega a ser irritante. No trabalho, somos bombardeados com centenas de e-mails que precisam ser respondidos em segundos numa objetividade quase surreal.

Escrevemos e comunicamos o quê? Seu cérebro funciona? Como? Você já se tornou daqueles que sequer sabem o número do telefone de casa porque, claro!, está gravado na agenda do celular?

Não estou aqui para criticar tecnologia, nem ninguém. E sim para admoestar a mim mesma. Percebi que posso ser a pior jornalista do mundo em querer buscar outro tipo de comunicação e por estar em um conflito enorme por caminhar em direção contrária aos demais. Posso ter telefone e computador top de linha, mas apenas para facilitar necessidades de trabalho ou comunicação. Isso não quer dizer ser obrigada a checar constantemente e-mails e mensagens chegando a todo momento. Observe à sua volta. Repare como estão conectados que sequer conseguem deixar o telefone no momento de uma refeição. Podem me chamar de qualquer coisa, todavia quero refletir na condição de humana.

Quando foi a última vez em que você ficou em silêncio? Silêncio assim, sem nenhum barulho por perto, produzido principalmente por você. Lembra de quando ouviu o seu corpo pulsar a vida? De quando deixou de ouvir os pensamentos gritantes em sua mente dizendo o que você deve ou deixou de fazer? De quando foi dormir e acordou de madrugada com o apito das mensagens do celular ligado? De quando ficou quase louco por ter de dar conta das centenas de e-mails e executar normalmente trabalho, estudos e tarefas de casa?

E nem falamos de rede social. Aliás, deixo esta para outra conversa. Vale repetir: não sou contra os meios de comunicação modernos; sou contra o consumo em demasia. Assim como comer em excesso não faz bem, viciar em meios virtuais também não é saudável, creio.

Um exemplo de grande vantagem da tecnologia: podemos fazer ligação por voz ou vídeo à distancia. E, para a nossa felicidade, continuamos conectados. Parece controverso o que escrevo, mas olhe para si mesmo.

Quando fui para o interior, esqueci que tenho celular. Pirei? Sim, um pouco. Mas talvez nunca estivesse tão lúcida como nestes últimos dias. Caminhar por horas no meio da natureza nos faz perceber a imensidão e a força que nos faz ser quem somos. Nos revela nossa capacidade de escolhas. Nos garante que somos seres para viver em harmonia e em paz com o nosso próprio eu. Nossa maior riqueza é o nosso bem estar.

Tome um tempo para si. Vá ouvir o que o seu eu tem para lhe dizer. Os momentos no interior foram comunicativos. De fartura, de casa cheia de amigos e conhecidos dando “uma passadinha pela região” e percebendo alguém estava em casa. Por acaso? Bom, o portão fica aberto e aquele texto que poderia ser digitado se torna uma mensagem para vida. Recordações de momentos realmente vividos.

Eu não estou fugindo ou me escondendo. Estou apenas buscando a minha cura. Continuo amando a minha profissão. Entretanto, acredito que precisamos ouvir e observar mais a nossa volta. Para contar histórias é preciso ouvi-las. É necessário escutar o nosso meio e sentir cada átomo que compõe o nosso ambiente.

Quando nos sentimos presente, o caminho nos torna visível conforme nossos passos. Como em uma caminhada numa floresta coberta de neblina, enxergamos e ouvimos aquilo que nos é necessário para seguirmos adiante. Apenas o momento.

 

Janeiro de 2016

Foto da autora

Edsandra Carneiro escreve, quinzenalmente, às quartas-feiras

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