Sou alguém que escolheu viver entre diferentes culturas para entender o outro e construir a si mesma. Mas, igualmente, sou arroz com feijão no Brasil, Stamppot na Holanda e pasta con pomodori freschi e basílico na na Itália — a pizza também faz parte da minha vida. Sou sol, chuva, neve, mar, montanha e lago. Antes, fui Cachoeiro de Itapemirim. As crises de existência fazem parte do meu crescimento enquanto ser.

Ainda adolescente, acabei envolvida pelo jornalismo. E nesta profissão comecei a descobrir o mundo, aprender novas culturas e querer estudar novos idiomas. Também foi neste ofício que minhas duas pernas foram quebradas e o meu pé direito esmagado. Mas, lentamente, todas as feridas abertas tornaram-se cicatrizes.

Reaprendi, literalmente, a andar e coloquei os pés para fora de casa para me aventurar em um caminho desconhecido. Cada novo país, cada nova língua, faz parte do meu recomeço. Ainda sinto dores. E, de vez em quando, o equilíbrio do meu corpo se perde com a instabilidade da minha mente.

No Brasil, documentamos o “Príncipe dos Repórteres”. Com um trabalho sobre a Amazônia fui apresentada à Holanda. Pela fome de conhecer novas culturas, compartilhei “Pomeranos” na Itália. E ainda engatinho no campo da Antropologia Cultural e Social incorporada ao contexto do alimento como forma de comunicação.

A TV e os jornais tradicionais me ensinaram o que eu quero ser e o que não quero ser nesta profissão. Quando me sinto perdida nas minhas escolhas, e “velha” para recomeçar, lembro que, para um viajante, cada estrada oferta conhecimentos. Estou apenas no início da estrada de cinco continentes.

Se pudesse me definir, escolheria a música “A vida de viajante”, de Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil. Apenas no lugar de “país”, diria mundo.