A fila

A FilaBrasileiro sempre deixa tudo para a última hora. Nada mais verdadeiro do que essa afirmação. E comigo não foi diferente. Deixei para fazer o cadastramento biométrico no antepenúltimo dia do prazo estabelecido pelo Tribunal Regional Eleitoral, o TRE.

Ao avistar a fila em frente ao Cartório Eleitoral de Jardim Camburi, que concentra todos os eleitores dos bairros da Região Norte de Vitória, imaginei esperar uma hora, uma hora e meia no máximo. Fiquei quase três horas.

Sob um Sol lancinante e sobre um solo escaldante, senti-me numa sauna. Com uma das mãos, segurava a sombrinha e, com a outra, uma revista semanal (aproveitei para colocar a leitura em dia). O suor escorria pelo pescoço, descia pelas minhas costas, alcançava as pernas.

Vendedores de água de coco e pipoca aproveitavam para ganhar uns trocados. Afinal, era hora do almoço e todos ali estavam com cara de que não teriam tempo de comer.

Ao ocupar meu lugar na fila, nem reparei não se tratar de uma linha reta, aquela das aulas de Geometria, caminho mais curto entre um ponto a outro. A fila era curva, ou melhor, formava uma sucessão de curvas, serpenteando pela calçada até se encontrar, todas juntas, num pequeno quadrado, debaixo de um toldo, bem na porta do posto de atendimento.

Provavelmente para escapar do Sol, as pessoas se espremiam à sombra e a fila parecia cada vez menos com uma fila. Até que apareceu uma mocinha tentando organizar a bagunça. Era funcionária do Cartório. Em tom professoral, dizia:

— Pessoal! A fila tem que seguir essas linhas aqui no chão. É só olhar e se posicionar. Um atrás do outro! Não é tão difícil.

A mocinha apontava para o piso onde se viam várias linhas desenhadas, paralelas entre si. Simulavam aqueles cercados instalados na entrada de estádios e outros locais de grande concentração de pessoas. Justamente para organizar a fila.

Não satisfeita em ensinar, resolveu mostrar na prática. Senti-me no meio de uma turma de crianças na saída da creche. Olhei para aquelas retas traçadas no chão, com espaço de menos de 20 centímetros entre elas, e — juro! — tentei me posicionar direitinho, entre duas linhas paralelas.

Parecia lógico: com todos espremidos, um atrás do outro, seria possível acomodar muito mais pessoas à sombra. E a gente ainda podia olhar com ar de superioridade para os que torravam ao Sol…

O sufoco só passou mesmo quando chegou a minha vez de entrar e — enfim! — esperar sentada, ao ar condicionado! O atendimento foi rápido. Em menos de dez minutos estava com o novo título na mão. Mais tarde, no mesmo dia, fiquei sabendo que o TRE prorrogou o prazo para o cadastramento biométrico. O motivo? Panes no sistema.

(Março 2016)
Foto da autora, tirada com o celular.
Eu, Cristina Fagundes, escrevo, quinzenalmente, aos domingos.

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