Cabeleireiro

Atire o primeiro creme leave in a mulher que nunca perdeu a cabeça depois de um corte de cabelo malfeito. Acontece com todas. Assim, se existe o famoso bad-day-hair, também conhecido como dia ruim do cabelo, é compreensível que haja o dia ruim do cabeleireiro, certo? Errado! Pois o resultado de um dia ruim do profissional fica estampado dezenas de dias no nosso rosto.

Tenho um cabeleireiro que faz minha cabeça há tempos. Mas, longe de casa, com o termômetro nas alturas, os fios me pareceram longos demais. Pesou, como dizem os profissionais da área. Então, peço uma indicação e marco o horário.

Pode soar preconceituoso, e, de fato é, mas prefiro cortar o cabelo com homens, gays ou não, a entregar as madeixas para uma mulher. Dei sorte no quesito cabelo. Tenho muito e ele é bastante jeitoso. Difícil errar. Mas, nas duas vezes em que cortei com mulher, me dei mal. Uma vez, fiquei com cara de poodle.

Esta semana, fiz uma nova experiência e, asseguro, a última. Definitivamente, o sexo masculino faz mais a minha cabeça. Chego ao salão e descubro que Myke, adoentado, não veio trabalhar. Cláudia poderia cortar, informaram.

Hummm!… Melhor deixar para amanhã, disse meu coração. Ao que a mente, retrucou: “Não é hora de se livrar desse preconceito bobo?” Pois…

Fui no básico: manter o corte e diminuir o comprimento. “Um pouco acima dos ombros e abaixo das orelhas.” Sinceramente, não é necessário um GPS ou jogar no Google Maps para entender a localização do meu pedido.

Certa de que fora compreendida, busquei algo para me entreter. Coisa leve: artigos sobre Física Quântica, um tratado de Filosofia ou um livro de Shakespeare no original.

Ah! Que peninha! Não tinham nada disso.

E a última Caras vocês têm? Tinham. Então, fica aqui comigo e a Contigo também. (Trocadilho infame, querido leitor? Mas, repara o que eu ando lendo… Então, por que essa Caras?).

Bem, picota de lá, tira de cá, e eu ficando por dentro da vida de todo mundo. Fulano se separou de novo, Beltrana, no quinto casamento, descobriu o significado da palavra amor. A modelo sumida deixou escapar ter um projeto sensacional, sobre o qual ainda não podia comentar. Ciclano, na frente de sua piscina bebendo champanhe Cristal, revelou gostar das coisas simples da vida.

Esse tipo de leitura edificante e as fotos de como o mundo dos outros é muito melhor que o meu me distraíram. Mas, parafraseando o dito popular, quando a cabeça não pensa, o cabelo padece.

Ao resolver voltar a realidade e me olhar no espelho, dei um grito de susto. Minha voz continuava a mesma, mas os meus cabelos, quanta diferença… Encontrei um lado bem mais curto e a moça ainda estava trabalhando nele.

— Ei, caramba! Você cortou demais!

Mas, talvez pelo barulho do secador ao lado, ela deve ter ouvido “corta mais”. E seguiu revezando-se de um lado ao outro, “acertando” o corte, assim como fazemos quando fica metade enviesada do pavê no pirex. Essas coisas nunca acabam bem. Vai tudo embora, e foi o que aconteceu.

Desastre total! Pedi para parar. O problema não era o tamanho, o corte estava malfeito. Ela sentiu o erro, me ofereceu uma massagem e escova, como cortesia. Mas eu não queria ficar nem mais um minuto naquele lugar amaldiçoado.

Sem um fio de alegria, saí do salão desconstruída. Numa hora dessas, só colo de mãe. Afinal, mães sempre levantam a autoestima da gente. Chegam até a nos deixar em dúvida se a situação é de fato tão ruim. Quer dizer…

— O que fizeram no seu cabelo? — perguntou, ao me ver. E, antes de eu responder, emendou:

— Liga não, filha. Cabelo cresce rápido.

Martha Gonzalez escreve, quinzenalmente, aos domingos

Imagem: lindospapeisdeparede.blogspot.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.