Podcast em Marte

O consumo de Podcasts cresceu estratosfericamente nos últimos anos. Se você já ouviu falar, mas não está ligando o som à pessoa, vou ajudar: Podcasts são conteúdos em áudio disponíveis em plataformas online, ou seja, quase uma rádio por demanda.

Sou podcaster e, esta semana, checando informações na plataforma onde meu programa está hospedado, verifiquei ter ouvintes em 20 países. Buscando mais dados, uma big surpresa: havia uma tabela informando serem meus seguidores todos do Planeta Terra. Estava claro como o Sol; Mercúrio, Vênus, Marte e outros tantos deste Sistema Solar com 0% de audiência. Sério, esse dado estava nos indicadores.

Como? Todos da Terra? E o pessoal que vive no mundo da Lua? Tenho muitos seguidores assim. Além do que, mais de 60% do meu público é feminino. Vai dizer que não tem uma ouvinte em Vênus? Eles não podem afirmar com tanta segurança essa audiência restrita à Terra. Não consegui engolir essa.

É mais uma daquelas histórias mal contadas, como a mudança de classificação de Plutão à categoria de planeta anão. Lembra? Foi em 2006 que a União Astronômica Internacional (UAI) o rebaixou. Até hoje me pergunto por que não aproveitaram para rebatizá-lo de Plutinho. Why, UAI?

Enfim, fiquei mesmo indignada com os dados: 100% terráqueos. Confesso já ter confundido astrologia com astronomia. Não o faço mais, mas só posso atribuir o disparate em não registrar os ouvintes espaciais ao retorno de Saturno. Como perguntava o saudoso Tim Maia: cadê o retorno? Som. Som. Cadê o som?

O Universo me ouviu e como sempre conspira a favor, esta semana, a sonda Perseverance, da Nasa, pousou em Marte. E o que fez de imediato o robozinho? Twittou fotos do Planeta Vermelho. Porém, além de câmeras, pela primeira vez, levou dois microfones. Assim, em breve, também ouviremos os áudios de Marte.

Ora, ora, ora, se vamos poder ouvi-los, eles também nos ouvirão, se é que já não o fazem. É o primeiro passo para um diálogo interplanetário. Na próxima missão, além de tweets, colocam um podcast no ar. Não tenho dúvidas: a Nasa se curvou ao crescimento astronômico dos podcasts e busca estratégia de comunicação parecida para tentar ir ao “infinito e além”.

São muitas as mensagens subliminares. Quem faz podcast costuma numerar seus episódios e batizar o primeiro de “zero”. Qual o nome da cratera onde a sonda pousou? Jezero! Aposto um microfone top que o termo significa zero em marciano.

Por falar nisso, pensar em dois microfones é puro modus operandi de uma mente podcaster ao gravar uma entrevista. Planejamos muito antes de levar nosso produto ao ar e no dia de uma gravação ficamos envoltos com vários modos de captar o áudio. Gravadores, áudio do aplicativo e até de celulares às vezes são usados ao mesmo tempo. Fazemos tudo para se algo der errado em uma das ferramentas de captação, o áudio esteja salvo em outra.

Não há espaço para “Houston, temos um problema”. Modéstia à parte, somos bem cuidadosos. Imagina perder uma entrevista? Nosso mundo desaba. O cronograma vai para o espaço! Não, não estou dizendo que colocar um podcast no ar seja mais difícil que lançar uma sonda. Não é isso. Aliás, fazer um podcast, em termos tecnológicos, não é nada do outro mundo. Não, mesmo.

Só quero deixar o alerta: o sucesso dessa missão da Nasa, nos permite afirmar que, em breve, podcasts irão inundar não só todo o Planeta Terra, mas toda a Via Láctea. Se você ainda não tem o hábito de ouvi-los, trate de se atualizar para não ficar fora de órbita. Tenho certeza, não demora, verei nos indicadores do meu podcast Brasileiros Longe de Casa, não apenas o percentual dos ouvintes em outros países, mas também os de outros planetas.

 

Martha Gonzalez além de escrever para o Clube de Crônicas publica, quinzenalmente, o podcast Brasileiros Longe de Casa. Disponível no Spotify, Deezer, Apple e Google Podcasts.