Dormindo à beira da estrada

Uma das maiores vantagens do horário de verão é poder dirigir até mais tarde na estrada. Até as oito da noite, ainda há um restinho de claridade. Só então começo a procurar lugar onde dormir, antes de chegar ao meu destino.

Já perdi as contas de em quantos hotéis à beira de rodovias já me hospedei. Se, para muitos, essa pode ser uma etapa desagradável da viagem (ficar procurando pouso), para mim é divertida, faz parte do programa.

Agora, por exemplo, estou escrevendo esta crônica deitada numa cama de um hotelzinho às margens da BR 262, em Ibatiba, no Sudoeste do Estado do Espírito Santo. Antevéspera de Natal, a caminho do Estado de Minas Gerais, com minha mãe, como só eu dirijo, não existe a possibilidade de revezar ao volante.

Subimos uma escada para chegar à recepção (geralmente, essas hospedarias ocupam a sobreloja de estabelecimentos comerciais). O meu quarto, por exemplo, dá vista para os fundos do letreiro de uma drogaria.

Crianças assistiam à TV enquanto uma moça simpática nos atendeu. Ela explicou que havia dois tipos de quartos. Escolhemos o mais barato, sem banheiro. O toalete do corredor estava limpíssimo e, praticamente, só minha mãe e eu o utilizaríamos naquela noite.

Nem sempre foi assim. Já ficamos em algumas espeluncas. Lençol com buracos de cigarro, travesseiro duro igual pedra, toalha rasgada e, o que é pior, água da torneira com cheiro de gasolina! Já adivinhou que esse ficava num posto de combustível, né?

Puxo pela memória e lembro que estava na Rodovia Régis Bittencourt, entre Curitiba e São Paulo. A quantidade de caminhões me assustou. Vinham como monstros de olhos brilhantes em minha direção. Depois de horas e horas ao volante, não estava em condições de enfrentá-los. Tive que encarar aquele péssimo hotel…

O mais “engraçado” foi ouvir a explicação do proprietário, quando, no dia seguinte, reclamei das condições. “Aqui só fica caminhoneiro. Não vale a pena investir” — respondeu. Então, quem corta o País de Norte a Sul, de Leste a Oeste, transportando cargas, enfrentando estradas perigosas, trânsito intenso, dirigindo horas a fio, não tem direito a uma noite de sono com razoável qualidade?

Com a experiência acumulada após tantas viagens, já não caio mais em “roubadas”. Ao primeiro sinal de cansaço, procuro um local onde passar a noite. Mas, ainda que as condições não sejam ideais, dormir mal à beira da estrada é melhor do que dormir bem ao volante.

(Janeiro de 2015)

Foto: Cristina Fagundes

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