No toalete feminino

Atire a primeira pedra quem nunca entrou, por engano, em toalete do sexo oposto. Comigo, já aconteceu mais de uma vez. Na última, lembro-me de estar lavando as mãos, tranquilamente, e levar um susto ao ver, refletida no espelho, a imagem de um homem. E meu primeiro pensamento foi: “Coitado! Ele entrou no banheiro errado”. Mas logo me dei conta: eu é que tinha me enganado. Com um sorriso sem graça, pedi desculpas e saí de fininho.

Mas a história mais engraçada teve como protagonista um amigo. E aconteceu num shopping destes bem movimentados. Ele me disse que ao entrar, provavelmente distraído (não, não quero acreditar que tenha sido de propósito!), encontrou o local vazio. Dirigiu-se à “cabine” para fazer o que tinha que ser feito. Lá dentro, qual não foi a sua surpresa quando ouviu vozes não masculinas.

“Será que estou ouvindo direito? Não! Não pode ser. Estou no banheiro feminino!”, deduziu, já suando frio. “E agora, o que fazer?” Ficou em estado de choque. Os pensamentos seguiam desordenados. O enredo do livro “O Homem Nu”, de Fernando Sabino, passou em flashes pela sua cabeça, mas ele não achou a menor graça.

Esperou pelo silêncio, sinal do local estar vazio. Se, ao entrar, não foi visto, seria possível sair quando não houvesse ninguém. Mas o burburinho não diminuía.  Afinal, era um banheiro feminino.  As necessidades fisiológicas não são, exatamente, o motivo principal para elas estarem ali. Fofocar, retocar o batom, ajeitar o cílio postiço, fazer as unhas e tudo o mais que as mulheres podem fazer num toalete estava acontecendo diante daquela porta fechada!

Pensou em espiar por uma fresta, mas poderia ser descoberto e aí sabe Deus o que lhe poderia acontecer. Apurou os ouvidos, tentando identificar o teor das conversas. Mas todas falavam ao mesmo tempo! Não foi possível compreender uma só frase.

Quantos homens gostariam de estar em seu lugar! Principalmente um de seus colegas de faculdade, cujo maior desejo era ser um mosquitinho só para poder entrar num toalete feminino. “Ah! Ele vai morrer de inveja quando souber” – sentiu-se vitorioso.

Tentou bolar uma estratégia para sair sem ser visto. Tirar a camisa e cobrir o rosto? Correr? Fingir que estava consertando a descarga? Nenhuma ideia lhe pareceu convincente. O mais sensato a fazer seria, concluiu, sair com a cabeça erguida, como se nada tivesse acontecido, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Deu uma arrumada nas roupas que vestia, colocou a mochila nas costas, abriu a porta e – ufa! – passou despercebido por entre as mulheres. Nem deu tempo de ver sua imagem refletida no espelho.

Cristina Fagundes escreve, quinzenalmente, aos domingos

(Agosto de 2014)

Ilustração: Nina Uyttenhove

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