Viagens e bichos

Noite sim, noite sim, religiosamente, um cachorro de nome Bug chega ao local onde sua dona trabalha, com a chave de casa na boca. E não a solta de jeito algum. Só relaxa quando a mulher encerra a jornada e segue rumo ao lar.

A cena descrita acima não foi extraída de livro, filme ou história em quadrinhos. Tampouco me foi contada por alguém. Foi, sim, presenciada por esta que vos escreve. A mulher em questão era funcionária de uma pousada na cidade de Sintra, em Portugal. Eu tive a oportunidade de apreciar o hilário comportamento do fiel amiguinho, nas noites em que estive hospedada ali.

Esse é apenas um dos casos curiosos envolvendo animais nas minhas viagens. Como sou apaixonada por bichos, acho que “atraio” pessoas como eu, e acabo me hospedando em locais onde os animais são bem-vindos. Às vezes, como moradores; noutras, frequentadores assíduos, ou acompanhantes de hóspedes.

Lembro-me de um casal em plena Lua de Mel, viajando acompanhado da gata de estimação. Ela era transportada numa caixa apropriada, com toda a segurança. Mas dormia com eles no quarto do hotel em Penedo, Alagoas. Imagino que ficava bem quietinha, para não atrapalhar as especiais noites de amor dos jovens.

Em Milho Verde, interior de Minas Gerais, na pousada onde já deixei de ser hóspede para virar alguém “da família”, numa certa noite, chamou-nos a atenção o latido insistente do Lume, o cachorro recém-adotado. Fomos descobrir o porquê e, em cima da árvore, havia um gambá.

Após muitas tentativas, conseguimos colocá-lo num saco e, depois, numa caixa. De carro, seguimos pela estrada até encontrar um local seguro, afastado da cidade, onde pudéssemos soltar o nosso “hóspede”. Mal abrimos a caixa, ele seguiu contente, sem olhar para trás. De volta ao lar!

Recentemente, tive a grata oportunidade de me hospedar na companhia de oito cachorros vira-latas, desses que pulam em cima da gente, querendo brincadeira e carinho. Foi em São Roque de Minas, na Serra da Canastra. Myrian, a dona da pousada, deixa os animais circularem pela área comum quando a casa está vazia. Mas, com a presença minha e da minha mãe, abriu uma exceção.

Todos foram resgatados das ruas (ela faz parte de uma ONG de proteção animal), alguns em situação deplorável. É o caso do Saci. Já dá para imaginar por que tem esse nome. Mas a falta de uma perninha não o impede de acompanhar os outros nas travessuras. Há também o Cravinho, a Penélope, Cleonice, o Janus, Zeus, Hades, e a Elvirinha.

E como nada nesta vida acontece por acaso, na última noite, após jantar, estávamos retornando a pé para a pousada quando ouvimos um choro sofrido. Era uma cadelinha, tremendo de frio e fome. Myrian não pensou duas vezes e resgatou o filhote. Logo descobrimos ser uma fêmea, a Mel.

Ela ganhou o colo quentinho de minha mãe e dormiu em nosso quarto, numa caixa de papelão. No dia seguinte, já aparentava estar mais confiante, ensaiando algumas brincadeiras. Soube depois que foi adotada e mudou de nome: Vicky.

Outra história curiosa é a de uma preguiça que vivia no quintal de uma pousada, em Itacaré, Bahia. Ela havia caído de uma árvore, durante uma enchente, e foi resgatada pelo dono do hotel. Ele estava cuidando do animal até que estivesse em condições de ser devolvido à natureza. Não sei como terminou a história.

Macacos, lagartos, araras, tucanos e outras aves, esses costumam aparecer de passagem, não para ficar. E é bom que não fiquem, voltem logo para seu habitat natural. Nem preciso dizer que, em pousada onde há pássaros engaiolados, eu não me sinto bem. Dou meia volta e procuro outro lugar.Cachorrinha Mel

Junho de 2016
Na foto, de minha autoria, a então Mel no colo quentinho da minha mãe.

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