Essa bolsa é a tua cara

— As mulheres são muito complexas.

A constatação do menino de 10 anos chamou a atenção de toda a família. Risadas depois, o pai com 40, completou:

— É! Mulher é mesmo muito difícil.

Pronto! Já deseducou a criança. Acertou o menino, errou o homem. Mulher é complexa, sim. Mas não é difícil.

Sento junto do garoto para entender o ocorrido. Ele me conta que ganhou um empurrão da coleguinha favorita, depois de dizer que ela estava bonita, com o vestido novo. E agora: como explicar que provavelmente ela o afastou porque queria-o por perto?

Mas, se tem coisas que ele ainda não compreende, daqui a alguns anos poderá perceber. Fico pensando no garoto que, em breve, se tornará um homem e quantos homens ainda permanecem garotos.

É verdade que um simples elogio sobre a maneira de vestir pode ser interpretado de inúmeras maneiras pela ala feminina. Vai depender da mulher, da ocasião, do tom de voz…

Mas, homens, não é difícil! Você não percebe a diferença entre rosa-antigo e rosa-chá? Então, vá no básico. As mulheres são fáceis de agradar. É só dizer, sempre que puder, “Você está linda.” “Você está elegante.” “Você está sexy.”

Mas, seja criativo: varie conforme a ocasião. Um casamento, um jantar com o chefe, uma balada. Pronto! Já marcou seu ponto na questão vestimenta. Simples assim. O elogio não precisa ser sempre, mas também não pode virar nunca.

Aliás, rapazes, tratem de adquirir esse timing. Um coringa, — como, por exemplo: “Você está mais magra.” — se dito mais de uma vez na mesma semana pode ser interpretado de outra maneira. E a reação dela pode passar dos limites.

— Você não me acha mais gostosa? Tá diferente desde que aquela vadia mudou para o 402.

Então, não erre na dose. Viu como é simples? Não precisa se aventurar. Se não entende nada de bolsas, porque tentar um comentário quando ela aparecer com uma estampada com um cachorrinho?

— Essa bolsa é a tua cara, só você mesmo — você diz, pensando agradar.

— Amor, presta atenção! — corrige a professora de Português: “Essa bolsa é a tua cara, só tu mesmo.” Ou: “Essa bolsa é a sua cara, só você mesmo.”

— Essa bolsa é a tua cara, só você mesmo…

— Como assim? — instiga a psicóloga. “Desenvolve. O fato de ser um cachorrinho te remete à fidelidade, à infância, a que exatamente?

— Essa bolsa é a tua cara, só você mesmo…

— Não sei! Não está meio infantil? — questiona a garota de 10 anos.

— Não sei! Ganhei de presente. Preferiria uma preta — contesta a adolescente.

— Não sei! Só comprei a do cachorro porque a do gato tinha acabado — revela a mulher madura.

— Essa bolsa é a tua cara, só você mesmo…

— Não entendi o comentário — desconfia a segunda esposa. “Você está me chamando de cachorra? Isso é coisa da vaca da sua ex-mulher! Pode começar a falar, quando você encontrou com ela?

— Essa bolsa é a tua cara, só você mesmo…

— É, cachorrão! — sussurra a ninfomaníaca. “Então, vamos trocar esse cineminha bobo por outro programa…

— Essa bolsa é a tua cara, só você mesmo…

— Que bom que você gostou! — exclama a que sabe viver.

Agora, todo cuidado é pouco quando a situação for inversa. Ou seja: quando ela praticamente pedir um elogio. Um exemplo: vocês marcam encontro na porta do cinema e, ao se encontrarem, ela fala:

— E então, amor? O que achou da minha produção?

Se não notou a bolsa nova do cachorrinho, aconselho a sinceridade “Não estou notando nada de diferente” — acompanhada, claro, de uma desculpa aceitável. E o que seria uma desculpa aceitável? Algo que ela não se sinta agredida em seus neurônios nem negligenciada em sua atenção.

— Amor! Estou meio confuso. Fui abduzido esta manhã e, enquanto os ETs me levavam, só pensava em você. Acordei no meio de uma lobotomia, gritando o seu nome. Os verdinhos ficaram tão assustados que resolveram me devolver à Terra. Vim correndo ao seu encontro porque detesto fazê-la esperar. Afinal, tínhamos marcado esse cineminha, mas, confesso, estou bem cansado para reparar em detalhes.

Pronto! Essa é uma desculpa aceitável. Ela vai compreender que não vale a pena se desentender com você por uma bobagem. Se, no entanto, insistir — “Ah, amor! Repara bem: o que tem de diferente em mim? — largue-a na porta de uma escola e vá jogar seu futebol ou ler um livro porque essa mulher ainda não saiu do ginásio na questão amorosa. Ninguém merece ser torturado pela parceira.

Mas uma coisa tem que ficar bem clara: em hipótese alguma tente bancar o esperto e soltar algo do tipo. “Claro, amor! Esse novo corte de cabelo ficou lindo!” Aí, amigo, se ela pegar a bolsa do cachorrinho e esfregar na sua fuça, você fez por merecer.

Martha Aurélia Gonzalez escreve, quinzenalmente, às quartaas-feiras

Imagem: dafiti.com.br

( Inverno de 2014)

 

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