Agora vou mudar minha conduta,

Eu vou pra luta, pois eu quero me aprumar…

Pois esta vida não está sopa

E eu pergunto: com que roupa,

com que roupa eu vou

Pro samba que você me convidou?

Um problema levantado há tempos pelo sambista Noel Rosa finalmente foi solucionado pela ocupante do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos do novo Governo.

Aqui entre nós, só descobri Damares Alves ser mulher ao ver sua foto em um site. A nova ministra tem um daqueles nomes neutros como Ariel, Darci, Íris… Cabe em qualquer ser humano. Veste bem homem e mulher, assim como todas as cores.

Ops! Não é uma crítica ao seu discurso. Não. O tom aqui é de agradecimento. A ministra reconhece as dificuldades femininas. Em grande parte das famílias, as mulheres começam cedo o dia, preparam o café-da-manhã, acordam os demais, dão andamento a uma série sem fim de providências para o dia de todos correr bem.

Só depois vão se arrumar para trabalhar fora, em grande maioria recebendo salário inferior ao de homens em atividades similares. Aí, ao abrir a porta do armário, ouvem, no fundo de suas mentes, o verso de Noel Rosa: “Com que roupa, eu vou?” Quem nunca, meninas?

A ministra, em sua nova função, está preocupada com nosso bem-estar. É certo: há algumas questõezinhas a serem resolvidas na nova Pasta, como violência contra a mulher, falta de apoio às mães trabalhando fora, eterna intromissão do Estado no corpo feminino… Mas, venhamos e convenhamos, Damares foi certeira. O que usar no dia a dia é uma aflição do mulherio. Agora ficou fácil: meninas usam rosa.

O novo Governo já demonstrou entender a importância das redes sociais. Então, Damares poderia criar um canal de moda no YouTube. Seria ótimo ver uma autoridade dando dicas sobre o look do dia.

— Então, gente! Para o trabalho aqui no Planalto, vou usar uma roupa tipo Barbie. O local pede muito babado. Para jantar com o maridão, deixo fluir meu lado pantera. Tudo cor de rosa, claro! O próximo vídeo será sobre os 50 tons de rosa. Dá seu joinha aqui e se inscreve para não perder.

Poderíamos fazer uma campanha pela criação do canal. Afinal, o Estado brasileiro se caracteriza pela eficiência em atender aos anseios de seus cidadãos e essa questão é muito importante para as mulheres.

Não esqueci: a ministra também se referiu aos homens, mas aí, ela tem de dividir o crédito com consultores de moda. Estes, sempre foram unânimes em dizer: na dúvida, um blazer azul-marinho é sempre elegante.

Pensando bem, ministra, apesar de ser muito pertinente sua preocupação, por que não lançar uma tendência bem bacana, pois a senhora está à frente da Pasta responsável, dentre outras coisas, por combater a discriminação sexual?

Ajude na costura dessa Presidência para ela se limitar a governar garantindo uma vida digna com saúde,  educação e  segurança ao povo. O Estado não tem de se intrometer no sexo, na religião, enfim, na vida particular do cidadão. É direito de cada ser humano decidir como colorir sua vida e escolher a roupa a ser usada para o samba ao qual foi convidado. Isso, sim, é de muito bom tom.

Martha Aurélia Gonzalez escreve quinzenalmente para o www.clubedecronicas e usa rosa, azul, verde, laranja…

Imagem: www.revistasuperinteressante.com.br

9/1/2019